Nem acredito que hoje estou escrevendo esse post, até parece
uma mentirinha pra mim, mas...é verdade.
Hoje, dia 28 de novembro, estou
realizando minha ultima dose de quimioterapia no Ambulatório do Nossa Senhora
das Graças. O tratamento não se
encerrou, ainda tenho mais 1 ano e meio ,só que depois de hoje passarei a usar
apenas quimioterápicos via oral. Isso não significa que vai ser fácil, mas que
as coisas vão se tornar um pouco menos complexas com certeza. O fantasma de
internações, intercorrências e tudo o mais ainda vai existir, afinal eu
continuarei tomando meus remédios, minhas taxas sanguíneas diminuirão da mesma
forma, mais a frequência será bem menor.
Queria falar um pouco a respeito da quimioterapia que realizei nesse tempo,
afinal todo mundo quando escuta falar de quimioterapia pensa:“Nossa, coitado, vai sofrer tanto, é tudo
tão horrível...a pessoa passa mal, fica feia, magra, careca. Meu Deus, que
tristeza”.Pois é, mas as coisas as
vezes são um pouquinho diferentes do que pensamos.
E eu posso dar uma pequena prova disso pra vocês.Eu mesma, há algum tempo já
sentia arrepios e pensava que esse tipo de tratamento era como uma sentença de
morte, ou quase isso, para o paciente.Enjoos, vômitos, queda de cabelo,
alergias, dores de cabeça, mucosite...Só coisa boa esse remedinho traz hein?
Pois é, mas é com ele que eu vou sair dessa e aprender a conviver com isso foi
essencial pra mim, pois, eu pelo menos, tive pouquíssimos enjoos, um pouco de
mucosite,vomitei duas vezes, algumas
dores de cabeça...e meu cabelo( acreditem se quiser) não chegou a cair. Raspei
pelo simples fato que acredito que o "ser careca" faz parte do tratamento e eu
quero fazer parte do tratamento, afinal é o MEU tratamento, a MINHA cura...
mantendo meus belos cabelos eu só ia estar me prendendo a uma vida que
infelizmente não era mais minha, eu aceitei minha Leucemia, aceitei o fato de
que a minha condição agora é essa e eu não me sinto nem um pouco frustrada em
relação a isso: hoje sou uma pessoa muito melhor do que era antes, porque como
diz a Marlene “ Mais me vale uma cabeça, do que o cabelo” .
Depois que passei a fazer quimioterapia comecei a acreditar que tudo que
acontece no nosso corpo só funciona se nossa cabeça estiver ativa e em
EQUILÍBRIO com aquilo que quer reagir com ele. Com os quimioterápicos eu faço
assim, penso e peço toda vez que eles entram para que façam seu trabalhinho de
destruírem as células que não são boas pra mim e deixem as boas em paz,
resultado: xixi de montão haha e de todas as cores(normalmente vermelho ou
amarelo quando os quimioterápicos tem cor). A eliminação é essencial, por isso
não me importo de urinar pelo menos 20x em um dia só (e guardar meu xixi,
quando estou internada né). Fico tranquila, porque sei que aquilo que meu corpo
achou que não é bom pra mim está indo embora.E aí está a maior prova de que se
minha cabeça aciona o comando "entrar em equilíbrio" com o remédio, sim pode
dar certo, porque afinal tá tudo aqui...todo o nosso controle está em nossas
mãos .
As vezes nos esquecemos disso e deixamos no piloto automático e é aí que o solo
se torna fértil para geração de grande parte dos nossos problemas, tanto no
aspecto de saúde física quanto mental.
Acredito que tenho levado meu tratamento com tranquilidade devido a essa minha
estratégia tão simples, que deveria ser levada a risca por todos, inclusive
aqueles que não estão em tratamento. É
só pensar: relacionamentos não são assim? É preciso equilíbrio, entre corpo e
mente, se não a coisa não funciona.É, melhor estar em equilíbrio sempre, não?
O meu equilíbrio só foi possível porque eu passei a acreditar de verdade nele e também porque
todos que estavam e estão ao meu lado me ajudaram e me ajudam a mantê-lo sempre
no eixo.
Na visão budista do mundo, a vida é
representada através de um desenho, que mostra uma Roda sendo segurada por um
Monstro. Na parte superior há uma Lua, que significa a libertação e um Buda que
mostra que é possível libertar-se da dor. Mas o que me chama mais atenção
nesse desenho e que me inspira a conduzir as coisas na minha vida neste momento
é o eixo da roda, onde se encontram três animais que representam o desejo, a
aversão e a ignorância. O principal é a ignorância, e é a partir dele que temos
que começar a focar para obter nossos resultados positivos. Mas como combater
a ignorância? Simples. Com conhecimento. Quem não busca ser melhor, conhecer mais...nunca vai atingir o que quer. O conhecimento está aí,
aceita-lo e principalmente ir atrás dele, sem medo,é essencial para quem quer
evoluir.
Conhecer e ACEITAR o meu Câncer, foi essencial para que eu pudesse fazer essa
roda girar, porque cada dia que passava eu aprendia algo novo e era esse
conhecimento que me fazia ficar livre das dores.
E hoje com certeza foi um dia que me mostrou que o fato de eu ter focado no meu
eixo e adquirido todo o conhecimento dessa doença valeu a pena, porque meu
ciclo foi fechado e agora eu entro em outra fase que com certeza vai me trazer
mais conhecimento ainda.
Na foto, Marlene... Não tenho palavras pra descrever o quanto essa pessoa foi
especial pra mim e o quanto eu aprendi com ela, me ensinou que nada é por acaso
e que a gente não está aqui por qualquer coisa , tudo tem um motivo e com
certeza você não surgiu na minha vida
por um acaso. Obrigada por tudo.
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