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quarta-feira, 28 de março de 2012

O que faltava











“Quando o indivíduo compreende a diferença entre a doença e o sintoma, a sua atitude básica e a sua relação para com a doença modificam-se rapidamente. Deixa de considerar o sintoma como o grande inimigo cuja destruição deve ser o seu objetivo prioritário, passando antes a encará-lo como um aliado que o poderá ajudar a encontrar aquilo que lhe falta para poder levar de vencida a doença. Nessa altura, o sintoma será como o Mestre que nos ajuda a estar atentos ao nosso desenvolvimento e conhecimento, um Mestre severo que será duro conosco se nos negarmos a aprender a lição mais importante. A doença não conhece outro objetivo que não o de nos ajudar a reparar as nossas carências e a tornar-nos sãos.”

      A cada dia que passa, a vida me da cada vez mais provas de que tudo está em equilibrio, e que as coisas são sim da maneira que deveriam ser. As provas vem de acordo com aquilo que um dia pensamos ser certo para nós e que com o tempo se confirmam em sutis demonstrações de equidade em tudo que acontece ao nosso redor. Este trecho, do belíssimo livro( ainda inacabado para mim) de Thorwald Dethlefsen e Rúdiger Dahlke, chamado “ A Doença Como Caminho”, demonstra claramente sentimentos que tive antes de ser diagnosticada com a tal da Leucemia Linfóide Aguda. Um belo dia, sem saber porquê, me vi chorando em um quarto escuro com um sentimento de “falta” enorme dentro de mim,era algo gritante, algo que a própria razão não sabe explicar, mais que me fez mudar o curso da minha vida, me fazendo voltar para o lugar onde toda essa história iria se desenrolar. E foi a partir disso que eu percebi, que toda essa situação deveria acontecer. Nada do que veio depois disso, não era mais do que a busca daquilo que me faltava.
    Meu sintoma foi de fato um “mestre”para que eu me guiasse em busca de não só uma, mais de milhares de lições importantes para que eu pudesse levar minha vida em frente,porém de forma mais consciente . Porém, isso só aconteceu porque eu fiz a escolha de levar tudo isso dessa forma, e essa minha escolha foi feita de maneira totalmente inconsciente. 

    Platão um dia disse que possuímos um tal de “conhecimento inato” e depois disso sabe que eu até acredito um pouco nele. Toda essa consciência de encarar a doença que partiu de mim quando recebi meu diagnóstico poderia morar em milhares de livros, vídeos, estudos e etc... porém eu não tinha visto nada disso até então, era simplesmente algo que morava dentro de mim mas que nunca tinha sido despertado até então . Foi necessário um ‘start’ , um acordar de um instinto maior do que eu, algo que talvez poucos nessa passagem por esse mundo consigam despertar a ponto de se fazerem mudar: era meu instinto de sobrevivência, clamando dentro de mim para que eu pudesse continuar aqui.Mas diferente do instinto que estamos acostumados a ter todos os dias, como trabalhar para poder comer, nos arrumar para poder agradar , o meu instinto dizia que deveria lutar contra a natureza do meu próprio corpo para sobreviver. Tive que aprender a modificar este, educa-lo , fazê-lo compreender que todas aquelas mutações ruins que haviam ocorrido precisavam desaparecer para que eu e ele pudéssemos sobreviver. 

   No final das contas , eu percebi que o que de fato estava doente era algo mais profundo, algo dentro de mim, algo que precisava ser chamado á vida , na qual em uma só, “evolui pelo menos umas 5 ou 6” como alguém me disse esses dias. E é essa tal evolução que de certa forma me incomoda agora, porque simplesmente passei do normal, para a excessão, e ser excessão num mundo ‘ normótico’ é algo terrível. Tenho que me adaptar a aceitar atitudes que de certa forma não fazem mais sentido para mim, pelo simples fato de que se  me considero dentro de uma freqüência tão dissonante da maioria das pessoas, então eu tenho que aprender a aceitar essas que estão de fora . Mais não aceitar pelo meu bem estar, mais sim por saber que todos possuem a chance de um dia evoluir, uns serão precocemente,como foi meu caso, outros serão agora, outros depois e muito outros talvez nunca atingirão esse nível de consciência. Porém, cabe a mim ,que atingi esse patamar ,compreender e aceitar tudo isso como mais um desafio que faz parte dessa jornada.
    É o eterno exercício da paciência,virtude que ficou e está tão marcada na minha vida, e que um dia eu espero que esteja marcada na vida de todos aqueles que acredito que possam evoluir junto comigo, rumo ao lugar maravilhoso que nos espera lá na frente.

   É a certeza de que muitos exergam em mim, de que possuo um futuro que será radiante, que me faz seguir em frente, sendo paciente e melhor comigo mesma e com os outros todos os dias.

Ps: fiz esse post para justificar a revolta do ultimo. Compreendi o porquê da minha tristeza, e que preciso aprender a lidar com ela, porque no fundo ela é só o respaldo dessa minha evolução brusca, porém necessária, e eu compreendo e aceito isso. Mantenho minha opinião,mas entendo que preciso mais do que nunca aprender a lidar com esta para não prejudicar aqueles que talvez ainda não compreendam esse  nível de consciência.

quarta-feira, 21 de março de 2012

A rejeição do outono


Primeiro dia de outono. Paro e penso em como as pessoas nem ligam para essa estação. Mas afinal, sempre tem que haver algo que é rejeitado, e com as estações não iria ser diferente , não é mesmo ?
 O verão e seu calor que aquece as emoções e nos faz agir como tolos, desesperados pela alegria que faz parte da estação, mesmo que ela muitas vezes não faça parte de nós. O inverno e seu frio que nos isola, porém conforta com a proximidade que temos das pessoas devido ao fato de nos tornarmos cada vez mais compactados conforme a sensação de frio aumenta. A primavera e suas cores... e flores, que trazem junto a harmonia de um clima agradável, saudável, que torna tudo leve e sem preocupações.
Mais agora, e o outono? O clima indefinido, as arvores literalmente peladas, fora a sujeira que fica por conta das folhas que caem, secas e sem vida. Talvez seja por essa indiscrição, essa “falta de algo” realmente especial, que o outono seja tão rejeitado assim. É deixado de lado, porque nele não há nada de especial, é só uma transição entre os extremos do verão e inverno. A primavera também é isso, porém tem suas flores que pintam um quadro mais confortável de mudança, mais bonito e por isso mais relevante.

E é aí que eu me questiono dessa importância da aparência do belo e do bonito. Do que parece ser bom, para aquilo que , no fundo só aparenta ser ruim. Vivemos em um mundo feio, sem escrúpulos, que prefere muito mais valorizar uma beleza física e material do que uma beleza que é única : a beleza da alma, aquela que modifica padrões de comportamento e que nos faz ser o que somos.


Só é atraente aquilo que é fisicamente belo, o deteriorado, o esquisito, o feio é rejeitado , por mais qualidades internas que possua. É triste concluir que as pessoas só consigam enxergar esse lado, me decepciona ver que, apesar de termos a consciência de que nada é para sempre ( inclusive a beleza) , nosso pensamento parece funcionar ao contrário dessa constatação.
 
Somos seres egoístas, que preferem ficar com aquilo que nos agrada os olhos, e manter o mais distante o possível aquilo que nos incomoda, nos trás desconforto, justamente pelo fato de sabermos que o nosso fim é sempre o mesmo...
 
É como cita Marcelo Rubens Paiva, em seu "Feliz Ano Velho", quando diz que as pessoas não estavam incomodadas com o fato de ele simplesmente ser estranho e não poder andar, estar ali, inválido em uma cadeira de rodas... elas na verdade estavam incomodadas com o aviso que ele dava á todos : que ele, apesar de jovem e belo, que aparentava ser imune como nós sempre nos achamos ser, tinha sofrido um golpe do destino, e que todos nós, inclusive aqueles que menos parecem, estamos sujeitos á esses golpes.
E é fato que nos incomodamos com essas mensagens que nos passam todos os dias. Preferimos ignora-las , trata-las com indiferença do que aceita-las com admiração. Ver que na verdade o belo se encontra nelas, porque apesar das diferenças, conseguiram resgatar o que há de melhor dentro de si para poder sobreviver. E o seu melhor com certeza não se encontrava na aparência física.
 Sinto que o “aparentemente” saudável torna-se cada vez mais doentio, mais sem vida, sem valores...sem amor.Afinal, o que é o amor? Porque isso me parece não existir mais. Existe somente uma coisa : atração física. Ponto. Admiração, valorização, amor-próprio... nada disso existe mais nas relações. E não estou querendo dizer só relações homem/mulher no sentido sexual, mais todos os tipos de relações. Ser amigo de alguém feio e estranho pega mal, então porque me aproximar, não é mesmo ?
O problema é que a verdadeira deformidade mora dentro de atitudes como essa. São as rejeições, pré-conceitos que moram dentro de nós que nos fazem perder qualquer beleza que possa passar á nossa frente. A verdade é que se cultivássemos melhores sentimentos por aquilo que nos é estranho, talvez soubéssemos enxergar melhor aquilo que é realmente válido : aquilo que mora dentro de todos, e que dura por toda a nossa existência, aquela certeza que não somos imunes á nada e que a nossa vida é frágil e que deveríamos cuidar muito bem dela. Essa deveria ser a  nossa resolução interna, que nos faria ser o que somos e definiria a verdadeira beleza ou fraqueza dentro de nós.
Passar por um golpe do destino não é motivo de redenção para ninguém. Porém saber aceita-lo com paciência é demonstração de que a alma permanece intacta, se tornando grandiosa e bela. É a construção de uma beleza que é única, e eterna. Diferente da aparência, que é totalmente descartável e finita.
O outono é para mim muito mais do que uma estação passível de rejeição. Ele significa renovação, é quando as folhas caem , para que no lugar dela possam vir novos frutos e folhas que tornam a vida mais saudável e colorida. A primavera só poderá existir se antes proceder um outono e um inverno rigoroso. Só há transformação, com renovação. E a renovação nem sempre é pintada nas cores que mais nos agradam.
Por isso , acredito que devemos aceitar todas as mensagens que nos são colocadas,valorizar aquilo que realmente importa e principalmente :não buscar, nessa vida, enxergar as pessoas através do véu inconsciente das aparências, mais sim por meio daquilo que elas possuem internamente.

Meu pequeno desabafo, pelos eternos 10 meses de rejeição que sofri por ser uma mensagem descarada da intermitência da vida.



quarta-feira, 7 de março de 2012

Um mundo bem diferente

http://vimeo.com/37119711 (Assistam ao vídeo e depois leiam !)

Quando vemos um vídeo desse, as portas de nossa percepção se abrem para uma realidade totalmente diferente, que convive com miséria, sofrimento, desigualdade e intolerância todos os dias, sem exceções.
Uma percepção que abre os nossos olhos para a nossa realidade, que perto dessa, soa como um conto de fadas, com direito á príncipes encantados e sem bruxas ou seres realmente malignos. Achamos que convivemos com o mal de verdade, quando na verdade ele está muito, mais muito distante de nós. Temos que conviver com a dualidade bem/mal, mas não com a maldade de verdade, na sua face mais fria e truculenta, nos esquecendo de ela existe de fato e que acontece justamente com o nosso semelhante ( não esqueçamos que todos os "homo sapiens" desse lugar chamado Terra são exatamente iguais, independente de cor, raça, religião e por aí vai).
É claro que imagens como essa nos chocam, nos deixam indignados , morrendo de vontade de fazer algo, afinal todos nós possuímos aquele sentimento cristão de caridade , de prezar pela vida do próximo, mas quantos fariam isso de verdade? Quantos estariam realmente dispostos a deixar sua realidade de conto de fadas para ser levado por uma causa como essa? É muito simples se sensibilizar no conforto de sua casa, na frente de um computador compartilhando no Facebook, mais me diga, você deixaria o quentinho de sua casa, com roupa lavada e passada , comidinha na mesa todos os dias, para se colocar num verdadeiro campo de batalha, lutando não só contra esses seres malignos, mais também contra doenças, ódio, indiferença, preconceito , miséria e sofrimento ?
É aí que eu me pergunto até onde vai essa ‘mobilização’,quantos estariam de fato dispostos a dar um futuro diferente para os seus filhos.
E como sempre foi na humanidade, poucos vão fazer, para que muitos sejam beneficiados.
 Me emociona o fato de saber que existem pessoas que ainda fazem esse tipo de trabalho, para que, quem sabe  daqui a algum tempo esse mundo seja melhor do que é hoje. Pessoas que ficam anos a fio estudando para ir se meter lá onde Judas perdeu as meias , só para ajudar quem mais precisa. Isso sim é trabalho de verdade. É o trabalho que verdadeiramente dignifica o homem, no sentido mais literal possível da palavra, porque todos os dias são uma recompensa, todos os dias são uma vitória, um ganho . Saimos da realidade onde o ganho é somente material, se tornando um ganho espiritual, uma verdadeira recompensa para a alma, e sinceramente , existe trabalho melhor do que esse? Buscamos tanto o sentido da nossa vida, uma maneira de evoluir, quando ela está aí... na nossa cara, e nós só sabemos dizer  “ Mais eu não sei se conseguiria conviver com tudo isso” . Bem vindo ao mundo real, a vida não é sempre essa maravilha que sonhamos que ela seja, ela pede sempre mais para nós, e nós precisamos ter a cara e a coragem de dizer que sim, nós estamos dispostos a mudar e tornar esse mundo um lugar melhor para se viver,mais não somente para eu viver, mais para TODOS nós vivermos.
Temos que parar de achar que o sofrimento deve ser vangloriado, que ele sempre vai significar crescimento, evolução... chega de pensar assim ! Não precisamos de mais crianças morrendo por conta de abusos e doenças graves, não precisamos ver adultos sofrendo por conta de suas vidas miseráveis, desacreditando dela pelo fato desta simplesmente não ter mais sentido... chega disso, o sofrimento é feio, não dignifica ninguém . O bom, o feliz, o alegre, a força , a maturidade, a inteligência... a coragem , isso sim é dignificante, isso sim é exemplo para que nós mudemos o nosso paradigma de vida, para que o despertar seja sincero e consciente.
Esse sofrimento feio, descarado e frio não existe somente lá na África, está aqui, do nosso lado nos rondando o tempo todo , e nós com a nossa cegueira permanente para esse tipo de assunto, nos mantemos longe dessa realidade , que é real e difícil de ser absorvida.
Se até hoje, a sua vida não teve um verdadeiro significado, um dia pelo menos em que você se sentiu vivo, dentro de uma realidade onde você realmente fez diferença... então eu acredito que você ainda tem a chance de fazer esse diferente. Todos nós temos, nunca é tarde demais para mudar pensamentos, criar coragem e mudar nosso mundo.
Como diria Paulo Freire, “para libertar um país, precisamos primeiro libertar a consciência desse povo”.Enquanto estivermos presos á essa consciência individual, nos importando apenas com o que é confortável e deixando de lado aquilo que nos incomoda... nada vai mudar.
Precisamos despertar nossa a consciência coletiva que eu acredito, que mora dentro de todos nós. E a força para mudar, vem disso. Abra seu coração, saiba que ele está disposto sim a uma mudança, mais que isso só se faz com muita coragem e dedicação, sem precisar do exemplo do sofrimento ou da dor. O despertar precisa ser claro e consciente, se não nada vai mudar de verdade.

http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI228050-15230,00-MINHAS+RAIZES+SAO+AEREAS.html
Aqui está um pequeno exemplo dessas pessoas que mudam o mundo, o meu mundo, o nosso mundo.
O sonho da minha vida é este, e é só esperar eu me recuperar dessa parada brusca, para poder voltar a correr atrás dele (: E aí, quer fazer parte disso comigo?