Primeiro
dia de outono. Paro e penso em como as pessoas nem ligam para essa estação.
Mas afinal, sempre tem que haver algo que é rejeitado, e com as estações não
iria ser diferente , não é mesmo ?
O verão e seu calor que aquece as emoções e nos faz agir como tolos, desesperados
pela alegria que faz parte da estação, mesmo que ela muitas vezes não faça
parte de nós. O inverno e seu frio que nos isola, porém conforta com a
proximidade que temos das pessoas devido ao fato de nos tornarmos cada vez mais
compactados conforme a sensação de frio aumenta. A primavera e suas cores... e
flores, que trazem junto a harmonia de um clima agradável, saudável, que torna
tudo leve e sem preocupações.
Mais agora, e o outono? O clima indefinido, as arvores literalmente
peladas, fora a sujeira que fica por conta das folhas que caem, secas e sem
vida. Talvez seja por essa indiscrição, essa “falta de algo” realmente
especial, que o outono seja tão rejeitado assim. É deixado de lado, porque nele
não há nada de especial, é só uma transição entre os extremos do verão e
inverno. A primavera também é isso, porém tem suas flores que pintam um quadro
mais confortável de mudança, mais bonito e por isso mais relevante.
E é aí que eu me questiono dessa importância da aparência do belo e do bonito.
Do que parece ser bom, para aquilo que , no fundo só aparenta ser ruim. Vivemos
em um mundo feio, sem escrúpulos, que prefere muito mais valorizar uma beleza
física e material do que uma beleza que é única : a beleza da alma, aquela que
modifica padrões de comportamento e que nos faz ser o que somos.
Só é atraente aquilo que é fisicamente belo, o deteriorado, o esquisito, o feio
é rejeitado , por mais qualidades internas que possua. É triste concluir que as
pessoas só consigam enxergar esse lado, me decepciona ver que, apesar de termos
a consciência de que nada é para sempre ( inclusive a beleza) , nosso
pensamento parece funcionar ao contrário dessa constatação.
Somos seres egoístas, que preferem ficar com aquilo que nos agrada os olhos, e
manter o mais distante o possível aquilo que nos incomoda, nos trás desconforto,
justamente pelo fato de sabermos que o nosso fim é sempre o mesmo...
É como cita Marcelo Rubens Paiva, em seu "Feliz Ano Velho", quando diz que as
pessoas não estavam incomodadas com o fato de ele simplesmente ser estranho e
não poder andar, estar ali, inválido em uma cadeira de rodas... elas na verdade
estavam incomodadas com o aviso que ele dava á todos : que ele, apesar de jovem
e belo, que aparentava ser imune como nós sempre nos achamos ser, tinha sofrido
um golpe do destino, e que todos nós, inclusive aqueles que menos parecem,
estamos sujeitos á esses golpes.
E é fato que nos incomodamos com essas mensagens que nos passam todos os dias.
Preferimos ignora-las , trata-las com indiferença do que aceita-las com
admiração. Ver que na verdade o belo se encontra nelas, porque apesar das
diferenças, conseguiram resgatar o que há de melhor dentro de si para poder
sobreviver. E o seu melhor com certeza não se encontrava na aparência física.
Sinto que o “aparentemente” saudável torna-se
cada vez mais doentio, mais sem vida, sem valores...sem amor.Afinal, o que é o
amor? Porque isso me parece não existir mais. Existe somente uma coisa :
atração física. Ponto. Admiração, valorização, amor-próprio... nada disso
existe mais nas relações. E não estou querendo dizer só relações homem/mulher
no sentido sexual, mais todos os tipos de relações. Ser amigo de alguém feio e
estranho pega mal, então porque me aproximar, não é mesmo ?
O problema é que a verdadeira deformidade mora dentro de atitudes como essa.
São as rejeições, pré-conceitos que moram dentro de nós que nos fazem perder
qualquer beleza que possa passar á nossa frente. A verdade é que se cultivássemos
melhores sentimentos por aquilo que nos é estranho, talvez soubéssemos enxergar
melhor aquilo que é realmente válido : aquilo que mora dentro de todos, e que
dura por toda a nossa existência, aquela certeza que não somos imunes á nada e que a nossa vida é frágil e que deveríamos cuidar muito bem dela. Essa deveria ser a nossa resolução interna, que nos faria ser o que somos e definiria a verdadeira beleza ou fraqueza dentro de nós.
Passar por um golpe do destino não é motivo de redenção para ninguém. Porém
saber aceita-lo com paciência é demonstração de que a alma permanece intacta, se
tornando grandiosa e bela. É a construção de uma beleza que é única, e eterna.
Diferente da aparência, que é totalmente descartável e finita.
O outono é para mim muito mais do que uma estação passível de rejeição. Ele
significa renovação, é quando as folhas caem , para que no lugar dela possam
vir novos frutos e folhas que tornam a vida mais saudável e colorida. A
primavera só poderá existir se antes proceder um outono e um inverno rigoroso.
Só há transformação, com renovação. E a renovação nem sempre é pintada nas
cores que mais nos agradam.
Por isso , acredito que devemos aceitar todas as mensagens que nos são
colocadas,valorizar aquilo que realmente importa e principalmente :não buscar, nessa vida, enxergar as pessoas através do véu inconsciente das aparências, mais
sim por meio daquilo que elas possuem internamente.
Meu pequeno desabafo, pelos eternos 10 meses de rejeição que sofri por ser uma
mensagem descarada da intermitência da vida.
Mais uma vez você foi brilhante ao expressar sua opinião. Lindo texto. Bj
ResponderExcluirOlá Lívia
ResponderExcluirGostei muito do seu texto e também do seu blog. Fui aluno de sua mãe e sempre lembro dela com muito carinho, talvez ela nem lembre mais de mim, pois perdemos contato. Quero que saiba que vou torcer por ti, e peço que todas as boas energias do universo estejam te iluminando nesta luta. Grande e forte Abraço!
Diego da Luz @diegodaluz2