Detesto fazer textos falando de sofrimento e tudo mais, sempre procuro tirar da minha experiência (sem muitos detalhes específicos sobre ela), coisas boas ... mas tem vezes que é difícil, e esses últimos dias me mostraram claramente isso. Comecei o tratamento extraordinariamente bem, animada e tranquila, apesar de já saber que ia ser um processo longo e algumas vezes, doloroso (no sentido mais real da palavra). Mas saber e sentir são coisas completamente distintas e é na experiência que vivenciamos o que é real. Esses últimos 15 dias me fizeram ver isto. A perspectiva de ficar 2 anos em tratamento, para salvar a minha vida parecia muito boa á princípio, pensando que pelo menos eu tenho a chance de ter a minha vida de volta. Mas só isso ás vezes não é suficiente para suprimir a dor física e psicológica que 4 meses intensos de tratamento podem causar, e causaram. Estava, e estou, cansada de tudo. Cansada de rotina de hospital, cansada de estar doente, cansada de deixar tudo de lado, cansada de ser deixada de lado. É, quem tem esperança as vezes cansa, não de ter esperança, mas de esperar resultados que sabe que pode ter somente à longo prazo. E infelizmente essa é a minha perspectiva atual. Como muitos não tiveram essa experiência nem com 50 anos de idade, eu com os meus 19 estou vivendo algo que é único pra uma pessoa: esperar, com toda a paciência do mundo, que algo dê certo na minha vida, sendo que essa coisa depende 80% da minha força de vontade. E não é uma faculdade, um casamento, um filho... é a minha sobrevivência. E como qualquer ser humano normal, eu tenho o meu instinto, que me leva a querer viver, certo? Sim, porém, só força de vontade não é suficiente para aguentar tudo que acontece. Dores estranhas e intermináveis, mais de 72h de dor de cabeça incessante, que para melhorar só com mais de 48h de repouso absoluto, e absoluto nesse caso significa uma cama a 0º , sem levantar nem 1 minuto nem para ir ao banheiro ou tomar banho. Isso tudo criou uma atmosfera de desespero, que ainda atraiu um problema no meu cateter, o que me levou para a mesa de cirurgia novamente, para retirar o que estava com problema, e reposionar outro. Resultado: a dor de cabeça até passou, mais aí veio a dor da cirurgia,que afinal me concedeu dois cortes e um corpo estranho novamente no meu organismo. Foram dias ruins , porém que me fizeram concluir algo: coisas ruins podem sim acontecer, mas se eu me deixar levar por elas, coisas piores podem acontecer. Talvez seja coisa minha, mas eu acredito de verdade que aquela ‘atmosfera de desespero’ foi suficiente para fazer meu corpo demorar tanto para se recuperar, e ainda agrupar mais alguns problemas. Podemos sim controlar aquilo que acontece com o nosso corpo, e agora eu sou perfeitamente capaz de compreender isto. Não posso controlar a mutação de uma célula causada por uma radiação, ou quem sabe um enjoo vindo em consequência de uma medicação... mas posso controlar para que a célula seja eliminada do meu corpo e que o enjoo cesse o mais rápido possível. Está tudo dentro da minha cabeça, e o comando está em minhas mãos. Ser saudável fisicamente não depende só daquilo que você come ou faz, mas também do que você pensa. Sim, pensamentos positivos atraem coisas positivas, acreditem. E isso serve não somente para as coisas relacionadas com o nosso corpo, serve também para nossas aspirações, sonhos e expectativas. Evitar atmosferas de desespero, tristeza, solidão... é um segredo simples para uma vida saudável.
Como diria Sir William Shakespeare “somos a matéria da qual são feitos os sonhos” ... e nossos pesadelos também. Porém, se buscarmos sempre colocar nossos pensamentos de acordo com aquilo que nossos sonhos normalmente proporcionam, provavelmente o pesadelo acontecerá muito menos do que esperamos :).
A foto acima é uma fruto de uma pesquisa feita por um médico japonês, que conseguiu 'fotografar' a forma que a água tem quando misturada com palavras, como amor e obrigada, como no caso desta que está aqui.
http://www.youtube.com/watch?v=ScbON-y5U2k&feature=related (Essa é uma parte do documentário 'Quem somos nós', que é excelente por sinal, em que essa pesquisa é relatada).
Oi, aqui é a Giulia (criadora do blog), desculpem a demora em postar mas é porque a vida tá corrida pra todos haha. Hoje o post é sobre o Médicos Sem Fronteiras.
Foto : MSF em ação em Alagoas em Julho de 2010 .
O médico brasileiro Sérgio Cabral visita famílias flageladas na cidade de Branquinha. MSF está fazendo monitoramento epidemiológico para acompanhar surgimento de casos de doenças como leptospirose.
Esta imagem retrata exatamente o meu maior sonho,que no momento está interrompido por circunstâncias que são inexplicáveis, mais que de certa forma tem me dado mais esperança e energia para ACREDITAR QUE ELE VAI SE TORNAR REALIDADE.
Tive a felicidade, de no meu último dia de aula lá na UNIFENAS, ter uma palestra com esse médico da foto, e ele me fez acreditar mais ainda que o projeto funciona e que tem resultados mais positivos do que nós podemos imaginar.
Como sempre, mais um dia, mais uma batalha vencida. Não sou médica ainda, mais me considero a minha ' primeira paciente' , em tratamento e cada vez mais perto do caminho da cura.
"Quando a paz se anunciar, dentro de nós.
É porque aquilo que nos cega, mostra um outro lado da moeda.
Que não paga as coisas do meu peito.
O preço é me fazer acreditar.
Sou tão perto de você"
( O Teatro Mágico) - Texto de: Lívia Martins.
Hoje em dia é difícil encontrar um grupo de pessoas que está disposta a deixar sua vida "de lado" para ajudar países em crise. A equipe consiste em Médicos (desde psicólogos até cirurgiões), Sociólogos, Advogados, Jornalistas, etc.. Que são mandados para regiões de conflito (tanto catástrofes naturais como guerras civis) para ajudar todas as pessoas que passaram por experiências traumatizantes, seja por questões de saúde física ou mental. AQUI tem uma entrevista da Debora Noal, psicóloga que trabalha no MSF desde 2008 e foi uma das entrevistas mais lindas que eu já li, mudou minha vida mesmo (tanto que eu até adicionei ela no facebook depois haha) e AQUI tem o site do MSF para quem quiser se informar mais ou fazer doações. Que tal começar a exercitar a solidariedade e compreensão no seu meio de convívio? Fazer trabalho voluntário, dar comida a alguém necessitado, doar roupas que você não usa, separar o lixo, evitar brigas desnecessárias e não julgar o próximo são o primeiro passo para que as pessoas a sua volta comecem a mudar também. Temos que ser a mudança que queremos ver no mundo.
ps: obrigada por todos os comentários, eu sei que é tudo pra Lívia mas fico muito feliz em saber que vocês gostaram da iniciativa!
Minha história é tão inacreditável que de tudo isso que vou contar só tiro uma certeza : nada é por acaso.
Sempre fui mais emoção do que razão, isso não posso negar, mas esse ano foi o que mais me mostrou isso. Sinto que para todas as pessoas que passaram na minha vida e por um motivo ou outro quiseram me deixar, ou simplesmente acabaram indo embora eu sempre dei um jeito de deixar algo de bom marcado, seja por palavras ou por esse meu sorriso meio desproporcional ao meu rosto. Sempre acreditei que já que estamos aqui, porque não fazer o bem? Porque não deixar de espalhá-lo, nem que seja da maneira mais simples possível? Esse é o pensamento da Lívia, sempre foi e sempre vai ser.
Minha história diante à esse diagnóstico começa antes mesmo de eu saber que aqui dentro habitavam algumas célulazinhas ruins que estavam se multiplicando de forma inadequada. Sinto que todo o meu “start” começou com a perda da minha querida Tia Marilda( dona do pensionato em que eu morava lá em Belo Horizonte, onde cursava Medicina na UNIFENAS-BH), que com certeza mudou muita coisa na minha vida. Ela despertou muito meu lado “espiritual” e a perda dela foi uma forma de concretizar certas crenças que pra mim careciam de uma explicação mais sólida. Sua perda não me deixou com tristeza, mais sim com uma certeza de que daqui um bom tempo nós vamos estar juntas de novo , em um lugar maravilhoso, porque eu sei que ela é uma daquelas pessoas definitivas nessa e em outras vidas que eu venha a ter.Foi nesse despertar que várias coisas começaram a pipocar na minha cabeça em questão de semanas : se era Medicina que eu queria mesmo pra minha vida, se valeria a pena todo o sacrifício de ficar tão longe da minha família, se eu queria de fato ser independente ( de todas as formas possíveis) e principalmente : se aquele meu velho pensamento de querer “salvar o mundo” valeria a pena mesmo, se não era uma bobagem infundada. Passaram-se muitos dias depois da morte da Tia, até que me peguei num quarto escuro, chorando porque cheguei a pequena conclusão que há muitos anos atrás Sócrates também havia chegado :de que eu nada sabia . Chegar a essa conclusão e admitir para si mesmo que nós não sabemos e nunca vamos saber de tudo é muito difícil, ainda mais se for admitido com sinceridade da alma, assim como foi no meu caso . Admiti isso para mim mesma, e me vi na situação de escolher entre continuar algo que para mim naquele momento não fazia sentido ou voltar para um estado de busca de conhecimento (conhecimento de todos os tipos, principalmente auto-conhecimento). E foi com essa justificativa meio maluca( pelo menos foi o que pareceu para todos) que eu pedi para voltar pra minha casa, em Curitiba. Em fevereiro desse ano voltei pra cá e com certeza foi a escolha mais certa que já fiz em toda a minha vida, até agora. Em março tive uma crise de apendicite, operei, e desde lá meu corpo já vinha demonstrando sinais de fraqueza : vivia desmaiando , não tinha vontade de comer nada e era branca como um fantasma. Porém minha cabeça parecia que já estava se preparando para enfrentar tudo isso : livros sobre saúde e doença tomavam minha escrivaninha e ler o relato de como pacientes lidavam com suas doenças era fascinante pra mim. Passava dias lendo-os e tentando buscar na cultura (cinema, fotografia, artes) uma sensibilidade a mais pra o que estava me esperando( que na verdade eu pensava que fosse continuar meu curso).
Os dias foram passando , e tudo começou a funcionar como uma grande despedida pra mim .Queria reunir meus amigos, fazer festas surpresas, ir viajar para visitá-los, dormir junto com quem nem imaginava que pudesse estar ao meu lado um dia...tudo isso só para dizer adeus para alguma coisa que eu pensava que não sabia o que era, mas sabia. O mês de maio se passou exatamente assim, em clima de despedida, clima de alguém que nunca mais ia voltar a ser a mesma que encontrava ali naqueles momentos. Na manhã do dia 18 de maio, acordei com uma dor abdominal terrível e aí começaram as internações: primeiro na Santa Casa, e foi lá que acabei fazendo o exame da medula, para descartar Leucemia (porque meu principal sintoma era queda de hemácias, leucócitos e plaquetas) ...e foi na certa. Um dia depois do exame me encontrava em uma cama, com meus pais e minha médica em volta, e esta me falando que havia avaliado minha lâmina, e nela haviam aparecido uns tais de blastos e que caracterizava um tipo de leucemia.
- Lívia, você tem Leucemia Linfóide Aguda. O tratamento vai de 2 à 5 anos e você tem que começar a partir de agora. Você vai começar a fazer quimioterapia, e vai ser transferida para outro hospital, o que pode ser feito hoje mesmo. Meu coração fica partido de te dar essa notícia, mais temos exemplos de pessoas muito fortes que conseguiram superar isso e hoje vivem uma vida normal como se nunca tivessem passado por isto.Foi o que me disse minha querida médica Jerusa. Com essas palavras, ditas de maneira tão triste, que eu só olhei para o lado e vi meus pais e meu irmão desabarem. Seu olhar de desespero diante algo tão brutal cortou meu coração, mas também me encheu de coragem para enfrentar tudo isso : eu precisava ganhar essa batalha, por eles...por mim. A morte tinha vindo me dar um alô e naquele dia eu decidi dizer pra ela que ainda não era a hora, que eu precisava, eu tinha que viver muito mais do que eu já tinha vivido até aquele momento. Fui internada no dia 20 ( 3 dias antes do meu aniversário de 19 anos ) no Hospital Nossa Senhora das Graças, e aqui tenho com certeza a melhor equipe que eu poderia ter no Brasil inteiro, ao meu dispor. Acredito em todos e sei que são capazes de me fazer sair dessa, não apenas com remédios, mais também com toda a atenção e cuidado que um paciente no meu estado necessita.
Aprendo todos os dias com essa equipe maravilhosa, e sei que o dia que em que eu estiver trabalhando como eles, eu vou ser diferente... porque sei exatamente como agir com aqueles que mais precisam.
Hoje, com 3 meses de tratamento vejo o quanto tudo isso precisava acontecer, não por mim, porque parecia que eu já sabia de tudo... mas por todos que estão ao meu redor. Eu sou um instrumento de condução dessa coisa que seja chama esperança, e minha missão é apenas passá-la à quem quiser se aproximar.
Eu não sou doente, eu estou doente... e é nessa pequena diferença que as pessoas que convivem com pessoas que tenham qualquer tipo de doença, ou até os doentes devem pensar. O estado de enfermidade é algo passageiro se temos consciência de como lidar com ele, e é com esse pensamento que tenho me mantido firme e esperançosa por todos esses meses.
Quero poder compartilhar essa minha luta e todas as minhas causas já pré-existentes com todos aqueles que queiram um pouco mais de esperança e luz em suas vidas, por isso escrevo minha história: para provar que tudo nessa vida tem sim um “porquê” , por mais que no começo muitas vezes ele não fique claro. Se passo por tudo isso hoje é porque tenho forças para isso, e eu sei que isso não aconteceu por um acaso.
Acreditem, a princesa sabe que tem muitas coisas que deve fazer sozinha, e nunca precisou de alguém para lhe deixar isto claro.