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terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Desistir ou não, eis a questão! É, muita gente acha que eu nunca pensei em fazer isso, mas sim, eu já pensei muitas e muitas vezes. Perguntas como: "Porque isso aconteceu justamente comigo? Porque justamente agora? O que eu fiz de tão errado pra merecer isso?" já borbulharam na minha cabeça muitas vezes.

A primeira foi umas três semanas depois que tinha saído do Hospital, por uma crise totalmente sem fundamento que me levou a esses pensamentos, fiquei chorando sozinha no meu quarto antes de dormir e me fiz essas questões sem, como já era de se esperar, encontrar respostas.
A segunda foi mais intensa: acho que passei as semanas seguintes desde o primeiro questionamento alimentando uma frustração por não achar respostas, e isso foi também tirando pouco a pouco toda a força que eu parecia ter desde o começo, força essa que nem eu sei explicar da onde tirei, e que uma hora ou outra, ia ter que dar uma brecha pra tristeza de saber que tinha uma doença como essa, afinal, eu sou humana não sou? Eu tenho direito sim de chorar, de fraquejar, de dizer que eu não merecia isso e que eu queria ter uma vida normal...e eu não quero escutar  "mas não chore", "já vai passar", eu quero apenas saber se eu fiz alguma coisa de errado, porque se eu fiz quero consertar  mesmo que agora o "castigo" já esteja sendo cumprido. Estava internada pela segunda vez, sozinha novamente, e aí no meio dessa crise toda me chega no quarto quem eu menos esperava: meu médico. É, aquele que todo mundo dizia ser frio, mal educado, que não falava direito com os pacientes... mas que com as minhas folias de usar uns brincos diferentes, colocar panos coloridos na cabeça, viver escutando música alta, ter o quarto todo enfeitado e claro, falar pelos cotovelos; virou meu amiguinho e ao me ver chorando pela primeira vez (depois de 2 meses de tratamento) me disse o seguinte: "Você pode chorar viu? Quem enfrentou brilhantemente toda a primeira fase de um tratamento intenso como esse tem o direito de chorar sim, tem o direito de ficar triste de vez em quando. Afinal não é fácil mesmo passar por tudo isso que você tá passando". Ele deu uma batidinha no meu joelho e eu percebi que ele também não tinha ficado feliz de me ver daquele jeito, então parei com a choradeira.

Depois desse dia, todo dia ele reclamava de algo: ou era porque eu não tinha colocado brinco, ou lenço, ou porque não estava zanzando pelo quarto, ou porque não tinha pintado as unhas... até que no ultimo dia já tinha feito tudo isso, e então estava tudo bem.
Minhas perguntas talvez não tenham respostas, mas de uma coisa eu tenho certeza: isso não aconteceu justamente comigo por acaso, aconteceu porque eu tinha que enxergar coisas que, na vida que eu levava talvez não enxergasse. Disse para minha mãe que depois que comecei o tratamento me sentia mais inteligente sei lá porque, e ela disse: "Não é mais inteligente... é mais sensível. Você sempre foi sensível, mais isso se multiplicou depois que tudo isso começou."
É difícil de imaginar mesmo que uma menina com 19 anos, no "auge" da vida aceite deixar "tantas coisas" de lado na boa assim como eu tenho aceitado: raspar o cabelo, ficar com o rosto inchado ( porque apenas meu rosto está inchado ok? Não engordei nem um quilo, nem emagreci, graças a Deus), parar de estudar, não poder sair, sentir dores constantemente, ter músculos comprometidos (o que me leva a ter aquelas coisas de "gente velha" tipo "travar" de vez em quando), ter uma diabetes temporária... Às vezes nem eu acredito que consegui lidar com isso tão bem, mais o fato é: eu já estava preparada pra lidar com tudo isso. Sempre fui atenta pra várias coisas que muitos deixavam de lado e de fato não fazia muito o tipo "menininha de 19 anos deslumbrada com sua vida feliz". Parece que eu já sabia que tudo isso iria acontecer e eu já estava me preparando psicologicamente pra isso...  seria tão bom se todos tivessem essa oportunidade tão misteriosa que eu tive, porque não ganhei apenas uma segunda oportunidade de viver, ganhei uma oportunidade de enxergar que a forma como sempre pensei sobre as coisas do mundo é a que vale a pena, e que eu tenho sim que lutar por ela e nunca desacreditar que ela pode dar certo. A sensibilidade é inerente ao ser humano, e se esquecemos de usá-la tudo perde o sentido, porque acabamos vivendo só pelos nossos "instintos" e todo mundo sabe que viver assim não dá certo.

Quer um pequeno exemplo de como "não bloquear" a sua sensibilidade pode dar certo?
Toda vez que saio na rua as pessoas ficam me olhando , porque de fato é impossível não olhar uma pessoa careca e com o rosto gordinho e o corpo magro. Mais imagina só se eu fosse desistir de andar na rua, tomar meu sol...tudo isso pelo olhar das pessoas (que sempre diz mais que mil palavras). Eu sou uma pessoa normal, tenho uma doença que é claro que me traz limitações, mas a Lívia continua a mesma. Eu gosto de sair com minhas amigas, de dar risada, eu vivo brigando com o meu pai porque ele simplesmente adora controlar tudo que eu faço, eu vou ao salão pintar minhas unhas com cores diferentes...E é por confiar no fato que eu continuo presente que a minha sensibilidade fez toda a diferença pra mim.

Acredito que a sensibilidade mora dentro de cada ser que habita este lugar, ninguém nasce sem ela. O problema está em querer estimulá-la ou não, porque o que normalmente impede as pessoas de estimularem a própria sensibilidade é aquele pensamento "o que os outros vão pensar de mim?", ou pior..."porque ‘fulano disse que..." e aí você não faz o que quer . Ser diferente é a melhor forma de viver, e as pessoas nunca se apercebem disto.




segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Quimioterapia :)

Nem acredito que hoje estou escrevendo esse post, até parece uma mentirinha pra mim, mas...é verdade.

 Hoje, dia 28 de novembro, estou realizando minha ultima dose de quimioterapia no Ambulatório do Nossa Senhora das Graças.  O tratamento não se encerrou, ainda tenho mais 1 ano e meio ,só que depois de hoje passarei a usar apenas quimioterápicos via oral. Isso não significa que vai ser fácil, mas que as coisas vão se tornar um pouco menos complexas com certeza. O fantasma de internações, intercorrências e tudo o mais ainda vai existir, afinal eu continuarei tomando meus remédios, minhas taxas sanguíneas diminuirão da mesma forma, mais a frequência será bem menor. 
Queria falar um pouco a respeito da quimioterapia que realizei nesse tempo, afinal todo mundo quando escuta falar de quimioterapia pensa:“Nossa, coitado, vai sofrer tanto, é tudo tão horrível...a pessoa passa mal, fica feia, magra, careca. Meu Deus, que tristeza”.Pois é, mas as coisas as vezes são um pouquinho diferentes do que pensamos.
E eu posso dar uma pequena prova disso pra vocês.Eu mesma, há algum tempo já sentia arrepios e pensava que esse tipo de tratamento era como uma sentença de morte, ou quase isso, para o paciente.Enjoos, vômitos, queda de cabelo, alergias, dores de cabeça, mucosite...Só coisa boa esse remedinho traz hein? Pois é, mas é com ele que eu vou sair dessa e aprender a conviver com isso foi essencial pra mim, pois, eu pelo menos, tive pouquíssimos enjoos, um pouco de mucosite,vomitei  duas vezes, algumas dores de cabeça...e meu cabelo( acreditem se quiser) não chegou a cair. Raspei pelo simples fato que acredito que o "ser careca" faz parte do tratamento e eu quero fazer parte do tratamento, afinal é o MEU tratamento, a MINHA cura... mantendo meus belos cabelos eu só ia estar me prendendo a uma vida que infelizmente não era mais minha, eu aceitei minha Leucemia, aceitei o fato de que a minha condição agora é essa e eu não me sinto nem um pouco frustrada em relação a isso: hoje sou uma pessoa muito melhor do que era antes, porque como diz a Marlene “ Mais me vale uma cabeça, do que o cabelo” .
Depois que passei a fazer quimioterapia comecei a acreditar que tudo que acontece no nosso corpo só funciona se nossa cabeça estiver ativa e em EQUILÍBRIO com aquilo que quer reagir com ele. Com os quimioterápicos eu faço assim, penso e peço toda vez que eles entram para que façam seu trabalhinho de destruírem as células que não são boas pra mim e deixem as boas em paz, resultado: xixi de montão haha e de todas as cores(normalmente vermelho ou amarelo quando os quimioterápicos tem cor). A eliminação é essencial, por isso não me importo de urinar pelo menos 20x em um dia só (e guardar meu xixi, quando estou internada né). Fico tranquila, porque sei que aquilo que meu corpo achou que não é bom pra mim está indo embora.E aí está a maior prova de que se minha cabeça aciona o comando "entrar em equilíbrio" com o remédio, sim pode dar certo, porque afinal tá tudo aqui...todo o nosso controle está em nossas mãos .
As vezes nos esquecemos disso e deixamos no piloto automático e é aí que o solo se torna fértil para geração de grande parte dos nossos problemas, tanto no aspecto de saúde física quanto mental.
Acredito que tenho levado meu tratamento com tranquilidade devido a essa minha estratégia tão simples, que deveria ser levada a risca por todos, inclusive aqueles que não estão em tratamento. É só pensar: relacionamentos não são assim? É preciso equilíbrio, entre corpo e mente, se não a coisa não funciona.É, melhor estar em equilíbrio sempre, não?
O meu equilíbrio só foi possível porque eu passei a acreditar de verdade nele e também porque todos que estavam e estão ao meu lado me ajudaram e me ajudam a mantê-lo sempre no eixo.
Na visão budista do mundo, a vida é representada através de um desenho, que mostra uma Roda sendo segurada por um Monstro. Na parte superior há uma Lua, que significa a libertação e um Buda que mostra que é possível libertar-se da dor. Mas o que me chama mais atenção nesse desenho e que me inspira a conduzir as coisas na minha vida neste momento é o eixo da roda, onde se encontram três animais que representam o desejo, a aversão e a ignorância. O principal é a ignorância, e é a partir dele que temos que começar a focar para obter nossos resultados positivos. Mas como combater a ignorância? Simples. Com conhecimento. Quem não busca ser melhor, conhecer mais...nunca vai atingir o que quer. O conhecimento está aí, aceita-lo e principalmente ir atrás dele, sem medo,é essencial para quem quer evoluir.
Conhecer e ACEITAR o meu Câncer, foi essencial para que eu pudesse fazer essa roda girar, porque cada dia que passava eu aprendia algo novo e era esse conhecimento que me fazia ficar livre das dores.
E hoje com certeza foi um dia que me mostrou que o fato de eu ter focado no meu eixo e adquirido todo o conhecimento dessa doença valeu a pena, porque meu ciclo foi fechado e agora eu entro em outra fase que com certeza vai me trazer mais conhecimento ainda.

Na foto, Marlene... Não tenho palavras pra descrever o quanto essa pessoa foi especial pra mim e o quanto eu aprendi com ela, me ensinou que nada é por acaso e que a gente não está aqui por qualquer coisa , tudo tem um motivo e com certeza  você não surgiu na minha vida por um acaso. Obrigada por tudo.








sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Seis Meses ♥

Hoje gostaria de compartilhar esse meu sorriso e parte da minha alegria com todos vocês meus amigos: hoje , dia 18 de novembro de 2011 eu completo exatos 6 meses de ínicio de tratamento contra essa pequena supresa que surgiu em minha vida. Nada está encerrado ainda, ainda tenho pelo menos mais um ano e meio de tratamento e o controle vai até 5 anos, mais é praticamente o “fechamento” de um ciclo para mim e para todos aqueles que me acompanham.
Sempre falo que mesmo de tudo isso chegar á todos de maneira tão brusca, eu já sentia em silêncio , que algo não estava bem. Tinha pequenos pressentimentos de que as coisas na minha vida de fato iriam mudar, era só uma questão de tempo e eu no momento não conseguia ver claramente se era para melhor ou para pior , mais o pensamento de que algo estava me faltando era tão inerente á mim que eu precisava esperar pacientemente para ver.
E então chegou o momento, e quando eu e todos ao meu redor pensamos que tudo isso ia se resumir apenas em trevas, surgiu a minha, a nossa luz : a minha esperança,a minha fé, o meu amor á minha vida e á todos aqueles que me cercam. O amor e toda a fé que vocês , meus amigos, de antes, de agora depositam em mim só me fizeram e fazem ficar cada dia mais e mais forte e hoje, dia 18, com quase 7.500 leucócitos, com sangue o suficiente para poder circular por aí sem me sentir fraca ou coisas do gênero ... isso é a prova que todos os pensamentos positivos, meu e de vocês, funcionaram e continuam funcionando. Só tenho a agradecer, á tudo: á natureza, aos meus familiares, aos meu amigos e principalmente á essa força que emana de dentro de mim que eu não sei explicar, mais que é tão forte que me faz querer estar sempre bem para poder passar isso para todos os seres desse universo maravilhoso.
Esses 6 meses me fizeram adquirir boa parte do “conhecimento” que eu sentia há tempos que me faltava, e hoje eu sei que é essa busca que nos motiva á viver , porque se daqui um dia ou outro nós não estivermos mais por aqui, isso é a única coisa que eu e vocês vamos levar para qualquer lugar que nós formos : educação, conhecimento, sabedoria... quero minha caixinha cheia, quero poder compartilhar ela com todos aqueles que querem encher a sua também ! Viver no vazio não vale a pena, ter uma vida cheia de amor, alegrias, esperança , paz e luz é que nos faz ser pessoas melhores para poder ajudar os outros á serem melhores também, porque afinal estamos todos juntos nessa né ? Somos um só coração batendo em milhares, milhões, bilhões de ritmos diferentes ... mais em plena harmonia, só basta adquirirmos consciência disso, e eu pelo menos me sinto totalmente disposta á cumprir essa missão !

Obrigada á todos aqueles que torcem por mim, rezam, mandam palavras de esperança e paz. Minha luta continua, mais boa parte dessa pequena batalha já foi completa :).

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=0jsw_r0hILQ
"I can see clearly now the rain is gone, I can see obstacles in my way. Gone are the dark clouds that had me blind."



terça-feira, 8 de novembro de 2011

Como Uma Onda No Mar


Doenças estão por todas as partes, não é preciso mais do que uma friagemzinha para que no dia seguinte o seu corpo já esteja pedindo para ficar eternamente em casa num repouso absoluto. Todos ficamos doentes, uma vez ou outra na vida. Pode ser uma gripe, pode ser uma dor de cabeça, uma gastriste , uma apendicite, uma catapora... um câncer. Não existe um ser no mundo, que possa afirmar com todas as palavras de que ‘ ah não, isto nunca vai acontecer comigo’ , afinal viemos para cá justamente para explorar essa plenitude que é nunca saber de nada, desvendar todo dia o mistério que nos faz despertar desde quando os primeiros raios de sol invadem nossos olhos até o momento que eles se fecham para entrarmos no mundo dos sonhos. 
Porém engrenar o funcionamento dessa descontinuidade da vida em relação as nossas aspirações físicas e materiais é um pouco complicado para nós seres modernos e cheio de desejos . Mas é quando essa descontinuidade chega como uma tsunami devastadora e sem limites é que parece que os estragos feitos jamais poderão ser remendados.

Doenças como o meu câncer, de Lula, Reinaldo Gianecchini  e todos os meus companheiros de hospital e quimioterapia requerem um tratamento que é uma verdadeira onda: ela chega, com mínimos avisos prévios, e quando você vê ela está arrastando todas as coisas que você imaginava que tinha. Arrasta primeiramente a sua segurança em relação á si mesmo,esta  segurança mínima que todos necessitamos para sobreviver ... a sombra da morte, mais do que nunca, se torna um fato realmente concreto na sua vida.
Em seguida, ela leva um pouco da esperança daqueles que o amam para um limbo sem fim, pois impotentes diante do fato de não poderem colocar-se no seu lugar tentam, em vão, entrar num mundo onde sabem que o acesso é restrito e somente quem está no meio desta onda. Passada essa primeira impressão mais psicológica , chega a verdadeira ‘quebra’ da onda : quando a ‘solução’ para os problemas começa a entrar de fato dentro de você. Médicos, quartos de hospitais, coletas de sangue, cirurgias, medicamentos constantes... quimioterapia. Substâncias agindo diretamente no seu corpo, com o seu consentimento para destruir coisas ruins, e boas.Chega a hora da prova de fogo, quando as dores vem de verdade, quando seu corpo parece dizer que não vai suportar tanta destruição silenciosa e invisível e a sua mente não consegue parar de dizer que você não vai conseguir. Dores físicas sem aviso, dores psicológicas á longo prazo. Perda de paladar, de peso, de humor , de cabelo. Olhando no meio de tudo isso parece apenas existir devastação e sofrimento. E é nesse momento que surge a pequena pergunta de ‘ qual o motivo disso tudo acontecer?’ , o que houve , ou que há de tão errado que causou esse desequilíbrio tão grande nessa minha praia? É aí que encontro minha solução : eu sou a solução, eu sou a minha evolução, a minha reconstrução. Só eu tenho o poder de modificar , consertar e acima de tudo, esperar para que essa onda tenha seu fim.Porque dentro de mim, hoje ,mais do que nunca nasce a paciência que me levará para o renascimento de uma vida totalmente nova. Essa onda não é eterna, e depois da tempestade...sempre vem a calmaria.
Toda destruição é passível de uma reconstrução, e nessa nova praia existe a possibilidade que não existia antes: tornar as coisas melhores do que eu poderia imaginar que elas poderiam ser um dia.
Continuam algumas marolinhas da minha onda, meu mundo ainda se reconstrói aos poucos ,mais hoje minha consciência de confecção dessa minha nova praia é tão grande que minha vontade é somente espalhar milhares de bandeiras brancas com os ensinamentos que vieram no meio da minha tempestade.

Pensando assim, será que ao olhar para aquele que sofre hoje como uma doença como essa , não seria muito mais bonito e digno acumular e espalhar pensamentos positivos para que essa vontade de querer viver nasça todos os dias para essa pessoa, como o sol que abre os teus olhos tão saudáveis e cheios de saúde e vida sempre? Não acha que seu mundo se tornaria um pouco melhor espalhando essa bandeira branca, para que você e todos se tornem mais harmoniosos e o descontrole da vida se torne algo prazeroso e de com verdadeiro significado para você ? 
Eu e o “Cara das Marolas” fazemos parte desse mundo junto com vocês, e temos a esperança que esse mundo ou o 'Brasil dele' sejam melhores sempre.  E é exatamente por estarmos todos juntos nessa que precisamos partir de um ponto onde o nosso pensamento em conjunto esteja equilibrado numa frequência suficientemente forte para todos sejamos  melhores nessa eterna luta que é viver e esperar pelas ondas que ainda virão.

Cuide de sua praia, cuide de cada pequeno grão de areia que se acumula nela, de cada conchinha que paira sobre lá com um pouquinho do barulho do mar , sempre lembrando que uma hora ou outra ele pode te invadir, mais que está nas suas mãos o poder de conservar a integridade das coisas que nela se acumulam e é somente cultivando amor e harmonia que todas as coisas boas se preservam eternamente em nossas vidas.

Agradeço hoje e sempre pelas oportunidades que me são abertas todos os dias, por cada suspiro que dou aliviada em saber que o meu amor próprio me modificou físico e espiritualmente para eu poder ajudar as pessoas a se modificarem também.
Minha praia hoje está linda apesar da minha Tsunami de Quimioterapias da semana passada: 15.8 de Hemoglobina ( para uma pessoa que já sobreviveu á 6.8) , somados á alguns 16.500 Leucócitos( para quem estava acostumada á ficar feliz com 3000 apenas) ... eu sou a prova de que a minha esperança me alimenta e é mais forte do que tudo, porque é isso que eu quero, eu quero viver, eu quero ser alguém bom e melhor para esse planeta, para esse mundo . 
Espero que hoje a deitar se sinta feliz, e atribua ao seu ser a gratidão á essa  força que nos rege e que nos dá a oportunidade maravilhosa de estar aqui para evoluirmos juntos e assim sermos melhores sempre. Vamos aproveitar essa nossa falta de controle de tudo e curtir a beleza da nossa praia com esse nosso eterno pôr-do-sol :)


terça-feira, 25 de outubro de 2011

Ontem realizei minha quarta biópsia de medula óssea  para avaliação do andamento do tratamento e gostaria de fazer alguns comentários em relação á esse processo, afinal ele é muito parecido com o da doação de medula óssea. Com pequenas diferenças de quantidades retiradas, o processo é muito simples, apesar de doloroso... porém eu penso que se for para salvar uma vida a dor se torna mínima . 

Acredito que se tivesse oportunidade , me inscreveria como doadora com certeza, assim como meus pais já estão cientes que caso algo aconteça algo comigo, eu gostaria muito que todos os meus órgãos fossem doados para quem realmente precisa, ou seja, quem está vivo... porque afinal se um dia eu tiver que ir, meus órgãos e todos os meus bens materiais não servirão de nada pra qualquer lugar pra que eu me mande.
Mais a questão aqui hoje não sou eu, afinal no momento me encontro impossibilitada de fazer certos tipos de doações, mais estou sempre disposta a doar um pouco da minha esperança á aqueles que buscam um pouco de inspiração para tornar seus dias melhores. 
Mas voltando á doação de medula...  É claro que o medo mora dentro de todos nós, mais hoje eu olho pra trás e penso que tinha medo de tanta coisa. Já tive medo do escuro, do Edgar que roncava no quarto ao lado, da Maria Sangrenta, da menina do Chamado, de morrer, de decepcionar meus pais, de me decepcionar comigo mesma. Eu morria de medo de tirar sangue ( aliás, desmaiava toda vez que ia fazer isto), e hoje faço isso á cada três dias conversando e dando risada. Tinha medo de tomar remédios , era do tipo que esperava até a dor ficar insuportável  pra aí tomar um , e hoje eu vejo o quanto alguns são realmente necessários para me manter viva. Tinha medo de ver quem eu amo sofrendo, e ainda tenho, mais minha esperança é maior do que isso e por todos os momentos consigo transformá-la numa sombra em cima dessa chatice que é ‘ter medo’, já vale a pena ser sonhadora como eu sou . Ter uma agulha , no meio do teu osso, puxando o líquido que tem lá dentro com apenas uma anestesia local e um ‘sossega leão’ ( que te faz dormir, mais que na hora que a agulha entra não é tão sossegado assim) não é fácil, eu admito. Chorei todas as vezes que fiz, afinal me acho bem corajosa, mais ainda choro quando as coisas me machucam ( e digo não só no aspecto físico) . Mais o que é um machucadinho de 15 minutos pra salvar uma vida inteira? Penso que não é nada perto da grandiosidade desse ato.
Além disso existe o fator ‘decisão’ . Muitos se inscrevem, mais muitos desistem também, e isto mostra o quanto somos covardes quando nos defrontamos com a realidade. Pra mim a possibilidade de uma outra pessoa lá do outro lado do mundo ser compatível comigo é algo tão extraordinário que me emocionaria e pediria para ir pro hospital na hora para poder fazer a doação, mais muitos não são assim. Fácil é assinar um nome no papel, difícil é honra-lo e se tornar um ser melhor para o mundo em que se vive.

O mundo precisa de coragem, precisa de decisão, precisa de humanidade, humildade...sensibilidade. Gestos como este ou talvez uma doação de sangue, uma visita em um hospital, asilo, orfanato .Ou quem sabe apenas colocar um nariz de palhaço para alegrar aquele que não vê mais motivos para sorrir. Sensibilizar-se com aquele que sofre,  conforta-lo , ama-lo, e até chorar sozinho por ele já são atos que demonstram que você está buscando evoluir, ser melhor para si e para os outros. O sofrimento faz parte da vida de todos nós, precisamos dele para evoluir, mais para evoluir ainda mais precisamos aprender a ameniza-lo , buscando formas de ajudar á quem precisa mesmo que seja indiretamente, discretamente...secretamente. 
Evoluindo, espantamos o medo e tornamos a coragem nosso ideal de vida. Aprendemos que a paciência é de fato uma virtude, e só com ela conseguimos manter as pessoas nas nossas vidas, porque felizmente somos únicos e temos diferenças. Aprendemos que amor e confiança se conquistam com o tempo sim, mais que são através de gestos e provas que temos a certeza desses sentimentos tão bonitos e hoje sei  disso porque meu coração guarda fatos concretos disso. Quem ama, não abandona. Quem confia,  não se deixa influenciar. 

Então, quem sabe dar uma prova de amor á um desconhecido ? Que tal sentir o prazer de tornar alguém feliz nem que seja por 5 minutos, sem no mínimo saber o seu nome.
Cumprimentar o cara que limpa a sua rua todos os dias incansavelmente, dar um bom dia pra aquele senhor que está na portaria do seu prédio a madrugada inteira só esperando o dia amanhecer para enfim poder ir pra casa descansar. Sorrir pra Tia da limpeza, pro seu professor, para o seu amor, para seu pai ou sua mãe , ou seu irmão com aquela bolinha chata na sua porta. Dizer que o/a ama, lhe mandar uma música ou um texto só para lembra-la que apesar da distância vocês estão sempre juntos. Inscrever-se para ser um doador de medula óssea, de órgãos...de amor . Doar sangue, doar roupas, brinquedos, comida...doar-se. Inscrever-se para ser voluntário, nem que seja na feira de doação de cachorros. 

Nos tornamos seres humanos honrados e cheios de harmonia com atitudes como estas, e elas são tão simples não são ? Então, abra seus olhos e seu coração... Se torne alguém melhor, seja melhor para si e para os outros, ame e seja amado e espalhe o amor! 
Faça como os meus anjos da alegria e tornem o dia de alguém melhor. Doem-se, sem pedir nada em troca e receberão o melhor que pode se ter na vida: o sorriso e alegria de alguém que realmente acreditava que essas coisas já tinha se tornado impossíveis de acontecer.
Eu ainda vou ser um anjo da alegria, podem anotar em suas agendas o que eu digo, porque eu quero e eu vou ser alguém que vai semear muito amor e alegria para todos aqueles que precisam. É pra isso que eu vim pra cá, e hoje eu tenho certeza disso. Minha ‘hora ‘ está para chegar.

Informações sobrea a doação de medula óssea : http://www.inca.gov.br/conteudo_view.asp?id=64
Ps : agradecimento á ABRALE, que na sexta passada nos premiou com o primeiro lugar na votação popular por essa maravilhosa foto tirada pela pessoa que é o verdadeiro significado do amor pra mim... minha mãe :) . Agradeço também aos meus anjos, que conheci no dia do meu exame, e que são lindas tanto como anjos como 'pessoas normais' . 



quarta-feira, 12 de outubro de 2011

O fantástico mundo de Bobby

                     Essa semana está rolando uma pequena campanha no Facebook em que as pessoas trocam as suas fotos do perfil por uma imagem de algum desenho que realmente marcou a sua infância como forma de protesto contra a violência infantil. Observei o quanto isso tem gerado polêmica, e aqui vai minha opinião : enquanto as pessoas preferirem ficar reclamando sobre o efeito que essa atitude vai trazer ou não, nada vai funcionar. Esses são os famosos brasileiros que desacreditam dos políticos porque acham que ‘são todos iguais’ ou que que preferem fechar os olhos para corrupção porque ‘sabem que ela nunca vai acabar mesmo’ . Ou seja, este é o seleto grupo de pessoas que morrerão numa mesmice sem tamanho, que nunca darão um exemplo de mudança para os seus filhos, porque a mudança para eles não existe e também não se faz necessária. Nunca estarão satisfeitos com a vida, porque nunca se propõem a mudar, a acreditar no novo e pensar que ele pode sim dar certo. Acreditar em um mundo melhor, em pessoas melhores é só o primeiro passo para que talvez tudo comece a dar certo. Já disse e repito: pensamentos positivos, atraem coisas positivas. Ficar reclamando da vida...bom ,isso todo mundo já sabe onde vai resultar !

           Acredito que existem milhares tipos de violência contra a criança, não só a agressão física a exploração sexual, mais também certas agressões psicológicas, como a falta de acesso á educação e saúde e porque não: uma doença.         

        
Como explicar um câncer, em uma criança de 2, 3, 4 anos ! Existem milhares de teorias para o surgimento do câncer: acúmulo de stress, causado por tristezas ou decepções muito grandes, exposição excessiva á substancias radioativas... mas como explicar isso em uma criança tão pequena, que nem teve tempo de fazer algo, de ser algo. Me dói só de imaginar que milhares de pequenos por esse Brasil á fora sofram, tudo que eu tenho passado nos últimos tempos. Se pra mim, que já sou grandinha o suficiente, já é difícil compreender porque tanto sofrimento e dor, imaginem só para uma criança . Como entender que o seu bracinho deve ser furado todos os dias para retirar sangue ou fazer uma cirurgia para colocar um corpo estranho ali. Como entender porque seus pais choram tanto, porquê sofrem tanto , porque isso está acontecendo com eles... e comigo ? E como explicar, que apesar de tudo isso, os próprios pais tiram força dessas pequenas criancinhas guerreiras, para conseguir se sustentar no meio desses problemas? Porque a maioria delas , sorri, canta e age como se a vida fosse apenas mais uma brincadeira que eles querem passar o resto do seu tempo brincando ... e é dessa maneira que a maioria deles levam isso, carregam o mundo em suas costas e lutam por suas vidas como se soubessem exatamente tudo de maravilhoso que tem nela, mesmo sem ter tido a oportunidade real de saber como tudo isso é .E é nessas crianças que me inspiro : porque elas me mostram que a mudança é possível.      

      
Talvez tenhamos que passar por uma má fase , ver coisas ruins, enfrentar elas para que no final dê tudo certo e nós passemos a compreender que tudo está em equilíbrio. E é aí que se encaixa o meu Bobby, em seu fantástico mundo. Ele vivia inventando e reinventando seu mundo, e era um ser tão feliz tão feliz... que nada mais nesse mundo importava, só suas fantasias e diversões! E afinal, o que esse nosso mundo é, além de uma grande invenção de tudo aquilo que está dentro das nossas cabeças?      

     
Talvez para sermos seres humanos melhores, precisaríamos nos reinventar mais, mudar mais e acreditar mais em nós mesmos.  Nós somos capazes de fazer a mudança, talvez ela não seja rápida e clara como nós esperamos, mais com o TEMPO talvez essa mudança se torne  mais permanente do que imaginamos.       
    
Fui forçada a aprender isso, estou num tratamento que durará quase 2 anos, em que remédios que tem uma ação boa e ruim ao mesmo tempo , são a única alternativa que tenho . Convivo com a dualidade do mundo todos os dias, sinto ela correndo em minhas veias , sinto suas dores e dissabores... mais acredito, que no final, tudo vai dar certo.  As coisas ruins sempre vão existir, isso faz parte do equilíbrio do mundo, mais quem sabe não é melhor buscar sempre as coisas boas, em vez de ficar insistindo na teoria de que as ruins sempre vão ser mais fortes?     

 
Um abração pro Bobby, meu eterno companheiro e outro para todas as crianças que assim como ele, sonham , imaginam o seu mundo da maneira mais bonita e divertida o possível. Talvez nós, adultos, devêssemos nos inspirar nelas.
 
Para saber mais sobre o câncer infantil :http://www.inca.gov.br/conteudo_view.asp?id=343

terça-feira, 27 de setembro de 2011


Detesto fazer textos falando de sofrimento e tudo mais, sempre procuro tirar da minha experiência (sem muitos detalhes específicos sobre ela), coisas boas ... mas tem vezes que é difícil, e esses últimos dias me mostraram claramente isso. Comecei o tratamento extraordinariamente bem, animada e tranquila, apesar de já saber que ia ser um processo longo e algumas vezes, doloroso (no sentido mais real da palavra). Mas saber e sentir são coisas completamente distintas e é na experiência que vivenciamos o que é real. Esses últimos 15 dias me fizeram ver isto. A perspectiva de ficar 2 anos em tratamento, para salvar a minha vida parecia muito boa á princípio, pensando que pelo menos eu tenho a chance de ter a minha vida de volta. Mas só isso ás vezes não é suficiente para suprimir a dor física e psicológica que 4 meses intensos de tratamento podem causar, e causaram. Estava, e estou, cansada de tudo. Cansada de rotina de hospital, cansada de estar doente, cansada de deixar tudo de lado, cansada de ser deixada de lado. É, quem tem esperança as vezes cansa, não de ter esperança, mas de esperar resultados que sabe que pode ter somente à longo prazo. E infelizmente essa é a minha perspectiva atual. Como muitos não tiveram essa experiência nem com 50 anos de idade, eu com os meus 19 estou vivendo algo que é único pra uma pessoa: esperar, com toda a paciência do mundo, que algo dê certo na minha vida, sendo que essa coisa depende 80% da minha força de vontade. E não é uma faculdade, um casamento, um filho... é a minha sobrevivência. E como qualquer ser humano normal, eu tenho o meu instinto, que me leva a querer viver, certo? Sim, porém, só força de vontade não é suficiente para aguentar tudo que acontece. Dores estranhas e intermináveis, mais de 72h de dor de cabeça incessante, que para melhorar só com mais de 48h de repouso absoluto, e absoluto nesse caso significa uma cama a 0º , sem levantar nem 1 minuto nem para ir ao banheiro ou tomar banho. Isso tudo criou uma atmosfera de desespero, que ainda atraiu um problema no meu cateter, o que me levou para a mesa de cirurgia novamente, para retirar o que estava com problema, e reposionar outro. Resultado: a dor de cabeça até passou, mais aí veio a dor da cirurgia,que afinal me concedeu dois cortes e um corpo estranho novamente no meu organismo. Foram dias ruins , porém que me fizeram concluir algo: coisas ruins podem sim acontecer, mas se eu me deixar levar por elas, coisas piores podem acontecer. Talvez seja coisa minha, mas eu acredito de verdade que aquela ‘atmosfera de desespero’ foi suficiente para fazer meu corpo demorar tanto para se recuperar, e ainda agrupar mais alguns problemas. Podemos sim controlar aquilo que acontece com o nosso corpo, e agora eu sou perfeitamente capaz de compreender isto. Não posso controlar a mutação de uma célula causada por uma radiação, ou quem sabe um enjoo vindo em consequência de uma medicação... mas posso controlar para que a célula seja eliminada do meu corpo e que o enjoo cesse o mais rápido possível. Está tudo dentro da minha cabeça, e o comando está em minhas mãos. Ser saudável fisicamente não depende só daquilo que você come ou faz, mas também do que você pensa. Sim, pensamentos positivos atraem coisas positivas, acreditem. E isso serve não somente para as coisas relacionadas com o nosso corpo, serve também para nossas aspirações, sonhos e expectativas. Evitar atmosferas de desespero, tristeza, solidão... é um segredo simples para uma vida saudável.
Como diria Sir William Shakespeare “somos a matéria da qual são feitos os sonhos” ... e nossos pesadelos também. Porém, se buscarmos sempre colocar nossos pensamentos de acordo com aquilo que nossos sonhos normalmente proporcionam, provavelmente o pesadelo acontecerá muito menos do que esperamos :).

A foto acima é uma fruto de uma pesquisa feita por um médico japonês, que conseguiu 'fotografar' a forma que a água tem quando misturada com palavras, como amor e obrigada, como no caso desta que está aqui.
http://www.youtube.com/watch?v=ScbON-y5U2k&feature=related (Essa é uma parte do documentário 'Quem somos nós', que é excelente por sinal, em que essa pesquisa é relatada).

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Desculpem a demora

Oi, aqui é a Giulia (criadora do blog), desculpem a demora em postar mas é porque a vida tá corrida pra todos haha. Hoje o post é sobre o Médicos Sem Fronteiras.






Foto : MSF em ação em Alagoas em Julho de 2010 .
O médico brasileiro Sérgio Cabral visita famílias flageladas na cidade de Branquinha. MSF está fazendo monitoramento epidemiológico para acompanhar surgimento de casos de doenças como leptospirose.


Esta imagem retrata exatamente o meu maior sonho,que no momento está interrompido por circunstâncias que são inexplicáveis, mais que de certa forma tem me dado mais esperança e energia para ACREDITAR QUE ELE VAI SE TORNAR REALIDADE.
Tive a felicidade, de no meu último dia de aula lá na UNIFENAS, ter uma palestra com esse médico da foto, e ele me fez acreditar mais ainda que o projeto funciona e que tem resultados mais positivos do que nós podemos imaginar.

Como sempre, mais um dia, mais uma batalha vencida. Não sou médica ainda, mais me considero a minha ' primeira paciente' , em tratamento e cada vez mais perto do caminho da cura.

"Quando a paz se anunciar, dentro de nós.
É porque aquilo que nos cega, mostra um outro lado da moeda.
Que não paga as coisas do meu peito.
O preço é me fazer acreditar.
Sou tão perto de você"
( O Teatro Mágico)  -  Texto de: Lívia Martins.





Hoje em dia é difícil encontrar um grupo de pessoas que está disposta a deixar sua vida "de lado" para ajudar países em crise. A equipe consiste em Médicos (desde psicólogos até cirurgiões), Sociólogos, Advogados, Jornalistas, etc.. Que são mandados para regiões de conflito (tanto catástrofes naturais como guerras civis) para ajudar todas as pessoas que passaram por experiências traumatizantes, seja por questões de saúde física ou mental. AQUI tem uma entrevista da Debora Noal, psicóloga que trabalha no MSF desde 2008 e foi uma das entrevistas mais lindas que eu já li, mudou minha vida mesmo (tanto que eu até adicionei ela no facebook depois haha) e AQUI tem o site do MSF para quem quiser se informar mais ou fazer doações. Que tal começar a exercitar a solidariedade e compreensão no seu meio de convívio? Fazer trabalho voluntário, dar comida a alguém necessitado, doar roupas que você não usa, separar o lixo, evitar brigas desnecessárias e não julgar o próximo são o primeiro passo para que as pessoas a sua volta comecem a mudar também. Temos que ser a mudança que queremos ver no mundo.


ps: obrigada por todos os comentários, eu sei que é tudo pra Lívia mas fico muito feliz em saber que vocês gostaram da iniciativa! 

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Minha história é tão inacreditável que de tudo isso que vou contar só tiro uma certeza : nada é por acaso.
Sempre fui mais emoção do que razão, isso não posso negar, mas esse ano foi o que mais me mostrou isso. Sinto que para todas as pessoas que passaram na minha vida e por um motivo ou outro quiseram me deixar, ou simplesmente acabaram indo embora eu sempre dei um jeito de deixar algo de bom marcado, seja por palavras ou por esse meu sorriso meio desproporcional ao meu rosto. Sempre acreditei que já que estamos aqui, porque não fazer o bem? Porque não deixar de espalhá-lo, nem que seja da maneira mais simples possível? Esse é o pensamento da Lívia, sempre foi e sempre vai ser.
Minha história diante à esse diagnóstico começa antes mesmo de eu saber que aqui dentro habitavam algumas célulazinhas ruins que estavam se multiplicando de forma inadequada. Sinto que todo o meu “start” começou com a perda da minha querida Tia Marilda( dona do pensionato em que eu morava lá em Belo Horizonte, onde cursava Medicina na UNIFENAS-BH), que com certeza mudou muita coisa na minha vida. Ela despertou muito meu lado “espiritual” e a perda dela foi uma forma de concretizar certas crenças que pra mim careciam de uma explicação mais sólida. Sua perda não me deixou com tristeza, mais sim com uma certeza  de que daqui um bom tempo nós vamos estar juntas de novo , em um lugar maravilhoso, porque eu sei que ela é uma daquelas pessoas definitivas nessa e em outras vidas que eu venha a ter.Foi  nesse despertar que várias coisas começaram a pipocar na minha cabeça em questão de semanas : se era Medicina que eu queria mesmo pra minha vida, se valeria a pena todo o sacrifício de ficar tão longe da minha família, se eu queria de fato ser independente ( de todas as formas possíveis) e principalmente : se aquele meu velho pensamento de querer “salvar o mundo” valeria a pena mesmo, se não era uma bobagem infundada. Passaram-se muitos dias depois da morte da Tia, até que me peguei num quarto escuro, chorando porque cheguei a pequena conclusão que há muitos anos atrás Sócrates também havia chegado :de que eu nada sabia . Chegar a essa conclusão e admitir para si mesmo que nós não sabemos e nunca vamos saber de tudo é muito difícil, ainda mais se for admitido com sinceridade da alma, assim como foi no meu caso . Admiti isso para mim mesma, e me vi na situação de escolher entre continuar algo que para mim naquele momento não fazia sentido ou voltar para um estado de busca de conhecimento (conhecimento de todos os tipos, principalmente auto-conhecimento). E foi com essa justificativa meio maluca( pelo menos foi o que pareceu para todos) que eu pedi para voltar pra minha casa, em Curitiba. Em fevereiro desse ano voltei pra cá e com certeza foi a escolha mais certa que já fiz em toda a minha vida, até agora. Em março tive uma crise de apendicite, operei, e desde lá meu corpo já vinha demonstrando sinais de fraqueza : vivia desmaiando , não tinha vontade de comer nada e era branca como um fantasma. Porém minha cabeça parecia que já estava se preparando para enfrentar tudo isso : livros sobre saúde e doença tomavam minha escrivaninha e ler o relato de como pacientes lidavam com suas doenças era fascinante pra mim. Passava dias lendo-os e tentando buscar na cultura (cinema, fotografia, artes) uma sensibilidade a mais pra o que estava me esperando( que na verdade eu pensava que fosse continuar meu curso).
Os dias foram passando , e tudo começou a funcionar como uma grande despedida pra mim .Queria reunir meus amigos, fazer festas surpresas, ir viajar para visitá-los, dormir junto com quem nem imaginava que pudesse estar ao meu lado um dia...tudo isso só para dizer adeus para alguma coisa que eu pensava que não sabia o que era, mas sabia. O mês de maio se passou exatamente assim, em clima de despedida, clima de alguém que nunca mais ia voltar a ser a mesma que encontrava ali naqueles momentos. Na manhã do dia 18 de maio, acordei com uma dor abdominal terrível e aí começaram as internações: primeiro na Santa Casa, e foi lá que acabei fazendo o exame da medula, para descartar Leucemia (porque meu principal sintoma era queda de hemácias, leucócitos e plaquetas) ...e foi na certa. Um dia depois do exame me encontrava em uma cama, com meus pais e minha médica em volta, e esta me falando que havia avaliado minha lâmina, e nela haviam aparecido uns tais de blastos e que caracterizava um tipo de leucemia.
-  Lívia, você tem Leucemia Linfóide Aguda. O tratamento vai de 2 à 5 anos e você tem que começar a partir de agora. Você vai começar a fazer quimioterapia, e vai ser transferida para outro hospital, o que pode ser feito hoje mesmo. Meu coração fica partido de te dar essa notícia, mais temos exemplos de pessoas muito fortes que conseguiram superar isso e hoje vivem uma vida normal como se nunca tivessem passado por isto.
Foi o que me disse minha querida médica Jerusa. Com essas palavras, ditas de maneira tão triste, que eu só olhei para o lado e vi meus pais e meu irmão desabarem. Seu olhar de desespero diante algo tão brutal cortou meu coração, mas também me encheu de coragem para enfrentar tudo isso : eu precisava ganhar essa batalha, por eles...por mim. A morte tinha vindo me dar um alô e naquele dia eu decidi dizer pra ela que ainda não era a hora, que eu precisava, eu tinha que viver muito mais do que eu já tinha vivido até aquele momento. Fui internada no dia 20 ( 3 dias antes do meu aniversário de 19 anos ) no Hospital Nossa Senhora das Graças, e aqui tenho com certeza a melhor equipe que eu poderia ter no Brasil inteiro, ao meu dispor. Acredito em todos e sei que são capazes de me fazer sair dessa, não apenas com remédios, mais também com toda a atenção e cuidado que um paciente no meu estado necessita.
Aprendo todos os dias com essa equipe maravilhosa, e sei que o dia que em que eu estiver trabalhando como eles, eu vou ser diferente... porque sei exatamente como agir com aqueles que mais precisam.
Hoje, com 3 meses de tratamento vejo o quanto tudo isso precisava acontecer, não por mim, porque parecia que eu já sabia de tudo... mas por todos que estão ao meu redor. Eu sou um instrumento de condução dessa coisa que seja chama esperança, e minha missão é apenas passá-la à quem quiser se aproximar.
Eu não sou doente, eu estou doente... e é nessa pequena diferença que as pessoas que convivem com pessoas que tenham qualquer tipo de doença, ou até os doentes devem pensar. O estado de enfermidade é algo passageiro se temos consciência de como lidar com ele, e é com esse pensamento que tenho me mantido firme e esperançosa por todos esses meses.
Quero poder compartilhar essa minha luta e todas as minhas causas já pré-existentes com todos aqueles que queiram um pouco mais de esperança e luz em suas vidas, por isso escrevo minha história: para provar que tudo nessa vida tem sim um “porquê” , por mais que no começo muitas vezes ele não fique claro. Se passo por tudo isso hoje é porque tenho forças para isso, e eu sei que isso não aconteceu por um acaso.
Acreditem, a princesa sabe que tem muitas coisas que deve fazer sozinha, e nunca precisou de alguém para lhe deixar isto claro.