Desistir ou não, eis a
questão! É, muita gente acha que eu nunca pensei em fazer isso, mas sim, eu
já pensei muitas e muitas vezes. Perguntas como: "Porque isso aconteceu
justamente comigo? Porque justamente agora? O que eu fiz de tão errado pra
merecer isso?" já borbulharam na minha
cabeça muitas vezes.
A primeira foi umas três semanas depois que tinha saído do Hospital, por uma crise totalmente sem fundamento que me levou a esses pensamentos, fiquei chorando sozinha no meu quarto antes de dormir e me fiz essas questões sem, como já era de se esperar, encontrar respostas.
A segunda foi mais intensa: acho que passei as semanas seguintes desde o primeiro questionamento alimentando uma frustração por não achar respostas, e isso foi também tirando pouco a pouco toda a força que eu parecia ter desde o começo, força essa que nem eu sei explicar da onde tirei, e que uma hora ou outra, ia ter que dar uma brecha pra tristeza de saber que tinha uma doença como essa, afinal, eu sou humana não sou? Eu tenho direito sim de chorar, de fraquejar, de dizer que eu não merecia isso e que eu queria ter uma vida normal...e eu não quero escutar "mas não chore", "já vai passar", eu quero apenas saber se eu fiz alguma coisa de errado, porque se eu fiz quero consertar mesmo que agora o "castigo" já esteja sendo cumprido. Estava internada pela segunda vez, sozinha novamente, e aí no meio dessa crise toda me chega no quarto quem eu menos esperava: meu médico. É, aquele que todo mundo dizia ser frio, mal educado, que não falava direito com os pacientes... mas que com as minhas folias de usar uns brincos diferentes, colocar panos coloridos na cabeça, viver escutando música alta, ter o quarto todo enfeitado e claro, falar pelos cotovelos; virou meu amiguinho e ao me ver chorando pela primeira vez (depois de 2 meses de tratamento) me disse o seguinte: "Você pode chorar viu? Quem enfrentou brilhantemente toda a primeira fase de um tratamento intenso como esse tem o direito de chorar sim, tem o direito de ficar triste de vez em quando. Afinal não é fácil mesmo passar por tudo isso que você tá passando". Ele deu uma batidinha no meu joelho e eu percebi que ele também não tinha ficado feliz de me ver daquele jeito, então parei com a choradeira.
Depois desse dia, todo dia ele reclamava de algo: ou era porque eu não tinha colocado brinco, ou lenço, ou porque não estava zanzando pelo quarto, ou porque não tinha pintado as unhas... até que no ultimo dia já tinha feito tudo isso, e então estava tudo bem.
A primeira foi umas três semanas depois que tinha saído do Hospital, por uma crise totalmente sem fundamento que me levou a esses pensamentos, fiquei chorando sozinha no meu quarto antes de dormir e me fiz essas questões sem, como já era de se esperar, encontrar respostas.
A segunda foi mais intensa: acho que passei as semanas seguintes desde o primeiro questionamento alimentando uma frustração por não achar respostas, e isso foi também tirando pouco a pouco toda a força que eu parecia ter desde o começo, força essa que nem eu sei explicar da onde tirei, e que uma hora ou outra, ia ter que dar uma brecha pra tristeza de saber que tinha uma doença como essa, afinal, eu sou humana não sou? Eu tenho direito sim de chorar, de fraquejar, de dizer que eu não merecia isso e que eu queria ter uma vida normal...e eu não quero escutar "mas não chore", "já vai passar", eu quero apenas saber se eu fiz alguma coisa de errado, porque se eu fiz quero consertar mesmo que agora o "castigo" já esteja sendo cumprido. Estava internada pela segunda vez, sozinha novamente, e aí no meio dessa crise toda me chega no quarto quem eu menos esperava: meu médico. É, aquele que todo mundo dizia ser frio, mal educado, que não falava direito com os pacientes... mas que com as minhas folias de usar uns brincos diferentes, colocar panos coloridos na cabeça, viver escutando música alta, ter o quarto todo enfeitado e claro, falar pelos cotovelos; virou meu amiguinho e ao me ver chorando pela primeira vez (depois de 2 meses de tratamento) me disse o seguinte: "Você pode chorar viu? Quem enfrentou brilhantemente toda a primeira fase de um tratamento intenso como esse tem o direito de chorar sim, tem o direito de ficar triste de vez em quando. Afinal não é fácil mesmo passar por tudo isso que você tá passando". Ele deu uma batidinha no meu joelho e eu percebi que ele também não tinha ficado feliz de me ver daquele jeito, então parei com a choradeira.
Depois desse dia, todo dia ele reclamava de algo: ou era porque eu não tinha colocado brinco, ou lenço, ou porque não estava zanzando pelo quarto, ou porque não tinha pintado as unhas... até que no ultimo dia já tinha feito tudo isso, e então estava tudo bem.
Minhas perguntas talvez não
tenham respostas, mas de uma coisa eu
tenho certeza: isso não aconteceu justamente comigo por acaso, aconteceu
porque eu tinha que enxergar coisas que, na vida que eu levava talvez não
enxergasse. Disse para minha mãe que depois que comecei o tratamento me sentia
mais inteligente sei lá porque, e ela disse: "Não é mais inteligente... é mais
sensível. Você sempre foi sensível, mais isso se multiplicou depois que tudo
isso começou."
É difícil de imaginar mesmo que uma menina com 19 anos, no "auge" da vida aceite deixar "tantas coisas" de lado na boa assim como eu tenho aceitado: raspar o cabelo, ficar com o rosto inchado ( porque apenas meu rosto está inchado ok? Não engordei nem um quilo, nem emagreci, graças a Deus), parar de estudar, não poder sair, sentir dores constantemente, ter músculos comprometidos (o que me leva a ter aquelas coisas de "gente velha" tipo "travar" de vez em quando), ter uma diabetes temporária... Às vezes nem eu acredito que consegui lidar com isso tão bem, mais o fato é: eu já estava preparada pra lidar com tudo isso. Sempre fui atenta pra várias coisas que muitos deixavam de lado e de fato não fazia muito o tipo "menininha de 19 anos deslumbrada com sua vida feliz". Parece que eu já sabia que tudo isso iria acontecer e eu já estava me preparando psicologicamente pra isso... seria tão bom se todos tivessem essa oportunidade tão misteriosa que eu tive, porque não ganhei apenas uma segunda oportunidade de viver, ganhei uma oportunidade de enxergar que a forma como sempre pensei sobre as coisas do mundo é a que vale a pena, e que eu tenho sim que lutar por ela e nunca desacreditar que ela pode dar certo. A sensibilidade é inerente ao ser humano, e se esquecemos de usá-la tudo perde o sentido, porque acabamos vivendo só pelos nossos "instintos" e todo mundo sabe que viver assim não dá certo.
Quer um pequeno exemplo de como "não bloquear" a sua sensibilidade pode dar certo?
Toda vez que saio na rua as pessoas ficam me olhando , porque de fato é impossível não olhar uma pessoa careca e com o rosto gordinho e o corpo magro. Mais imagina só se eu fosse desistir de andar na rua, tomar meu sol...tudo isso pelo olhar das pessoas (que sempre diz mais que mil palavras). Eu sou uma pessoa normal, tenho uma doença que é claro que me traz limitações, mas a Lívia continua a mesma. Eu gosto de sair com minhas amigas, de dar risada, eu vivo brigando com o meu pai porque ele simplesmente adora controlar tudo que eu faço, eu vou ao salão pintar minhas unhas com cores diferentes...E é por confiar no fato que eu continuo presente que a minha sensibilidade fez toda a diferença pra mim.
Acredito que a sensibilidade mora dentro de cada ser que habita este lugar, ninguém nasce sem ela. O problema está em querer estimulá-la ou não, porque o que normalmente impede as pessoas de estimularem a própria sensibilidade é aquele pensamento "o que os outros vão pensar de mim?", ou pior..."porque ‘fulano disse que..." e aí você não faz o que quer . Ser diferente é a melhor forma de viver, e as pessoas nunca se apercebem disto.
É difícil de imaginar mesmo que uma menina com 19 anos, no "auge" da vida aceite deixar "tantas coisas" de lado na boa assim como eu tenho aceitado: raspar o cabelo, ficar com o rosto inchado ( porque apenas meu rosto está inchado ok? Não engordei nem um quilo, nem emagreci, graças a Deus), parar de estudar, não poder sair, sentir dores constantemente, ter músculos comprometidos (o que me leva a ter aquelas coisas de "gente velha" tipo "travar" de vez em quando), ter uma diabetes temporária... Às vezes nem eu acredito que consegui lidar com isso tão bem, mais o fato é: eu já estava preparada pra lidar com tudo isso. Sempre fui atenta pra várias coisas que muitos deixavam de lado e de fato não fazia muito o tipo "menininha de 19 anos deslumbrada com sua vida feliz". Parece que eu já sabia que tudo isso iria acontecer e eu já estava me preparando psicologicamente pra isso... seria tão bom se todos tivessem essa oportunidade tão misteriosa que eu tive, porque não ganhei apenas uma segunda oportunidade de viver, ganhei uma oportunidade de enxergar que a forma como sempre pensei sobre as coisas do mundo é a que vale a pena, e que eu tenho sim que lutar por ela e nunca desacreditar que ela pode dar certo. A sensibilidade é inerente ao ser humano, e se esquecemos de usá-la tudo perde o sentido, porque acabamos vivendo só pelos nossos "instintos" e todo mundo sabe que viver assim não dá certo.
Quer um pequeno exemplo de como "não bloquear" a sua sensibilidade pode dar certo?
Toda vez que saio na rua as pessoas ficam me olhando , porque de fato é impossível não olhar uma pessoa careca e com o rosto gordinho e o corpo magro. Mais imagina só se eu fosse desistir de andar na rua, tomar meu sol...tudo isso pelo olhar das pessoas (que sempre diz mais que mil palavras). Eu sou uma pessoa normal, tenho uma doença que é claro que me traz limitações, mas a Lívia continua a mesma. Eu gosto de sair com minhas amigas, de dar risada, eu vivo brigando com o meu pai porque ele simplesmente adora controlar tudo que eu faço, eu vou ao salão pintar minhas unhas com cores diferentes...E é por confiar no fato que eu continuo presente que a minha sensibilidade fez toda a diferença pra mim.
Acredito que a sensibilidade mora dentro de cada ser que habita este lugar, ninguém nasce sem ela. O problema está em querer estimulá-la ou não, porque o que normalmente impede as pessoas de estimularem a própria sensibilidade é aquele pensamento "o que os outros vão pensar de mim?", ou pior..."porque ‘fulano disse que..." e aí você não faz o que quer . Ser diferente é a melhor forma de viver, e as pessoas nunca se apercebem disto.